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O hábito faz o monge?

Leia em PDF terça-feira, 21 de maio de 2013

“Estou estudando para ser padre e a batina é o sinal que eu sou de Jesus”. 
“Revistam-se, ó Senhor, os teus sacerdotes de justiça“.
(Salmo 131, 9)

Por Carlos Magno da S. Oliveira

Aquele velho dito popular, alterado pelo título deste artigo, é normalmente atribuído às aparências. Como apresentado pelo Dicionário Aurélio a palavra “hábito” tem como significado a roupagem de frade ou freira. Por roupagem entende-se o aspecto exterior. A batina, por sua vez, significa a veste talar dos abades, padres e seminaristas, sendo instituída pela Igreja, ainda do século V, com o propósito de dar aos seus sacerdotes um modo de vestir sério, simples e austero. Guardando esta tradição, o Código de Direito Canônico impõe o hábito eclesiástico a todos os sacerdotes.

No entanto, o que observamos hoje em dia é um total abandono, não só do hábito por parte dos frades, mas também da batina por parte dos padres. Além disso, o termo “largar a batina” significa apostatar, isto é, desertar da fé e não querer ser mais padre. Não vamos questionar esse sentido, pois o assunto não é o propósito dessas linhas. Outrossim, são raras as ocasiões em que podemos admirar um padre usando a batina.

A batina está para o padre, assim como a farda está para o soldado; e um exército sem farda transforma-se em uma horda, em um bando de indisciplinados e malfazejos. Dos milhares que abandonaram o sacerdócio depois do Concílio Vaticano II, praticamente nenhum abandonou a batina no dia anterior ao de ir embora: tinham-no feito muito antes. Dessa forma, deixar de usar a batina é um passo próximo ao de largar o sacerdócio.

Além do mais, a batina simboliza a túnica de Nosso Senhor Jesus Cristo que os religiosos assumem, para serem, entre o povo, como Cristo. É, também, a forma de exteriorizar a separação entre as demais pessoas e refletir uma vida mais perfeita e penitente. Repudiar o uso da batina é o mesmo que repudiar este sinal de referência a uma vida religiosa, logo pressupõe-se que outras atitudes foram, do mesmo modo, deixados de lado.

Padre sem batina continua padre, haja vista que o caráter sacerdotal jamais se apaga da sua alma, mas vestido como um leigo, o padre nivela-se a um qualquer, tende a levar uma vida natural como todo mundo e esquece, portanto, seu caráter sacerdotal.

Embora digam que o hábito não faz o monge, ao menos o ajuda a postar-se como religioso – o mesmo vale para os padres com relação à batina. Não faz, mas mostra! A identificação de um padre deve ser tratada com prioridade, uma vez que um padre não é um homem como todo o mundo. Destarte, o padre é, se não, o sacerdote do Altíssimo, um ministro de Deus na Terra.

Vestindo-se como todo o mundo o padre adota condutas alheias ao seu oficio e tende passar a agir de modo igualitário. Tornou-se, então, bizarro, por parte dos modernistas, o uso da batina e do hábito, mas esse comportamento trouxe conseqüências drásticas para o clero, e, por conseguinte à Igreja. O modo como o padre era olhado do exterior também se alterou (o padre detinha um poder simbólico e exercia um magistério social inquestionável). E, por fim, e para resumir, a maneira como o padre olha para si mesmo reflete também novas interrogações, expectativas e possíveis caminhos.

À medida que a visibilidade da batina ou hábito diminui, cresce a aparência secular, leiga e em alguns casos até profana do sacerdote. Ao contrário dos ensinamentos da Igreja de que os padres devem abster-ser de tudo que não convém ao estado clerical, verificamos que, na contra-mão da tradição, os padres estão cada vez mais parecidos com os demais. A batina é, por assim dizendo, um despertador silencioso, para com a responsabilidade assumida no momento da ordenação Quando se despreza o uniforme, se despreza a categoria ou classe que este representa, e não há compromisso quando exteriormente nada diz do que se é.
A batina desperta o sentido do sobrenatural, marca presença e destaca o sacerdote dos demais. Aqueles que tiram a batina, rechaçam as tradições de sempre e depois se queixam da crise, da falta de vocações e dos comportamentos heréticos por parte dos católicos. Não restam dúvidas de que a dessacralização é fruto desse igualitarismo por parte do clero.

O hábito e a batina preservam os religiosos e padres de muitos perigos, pois como dizia o Pe. Eduardo Regatillo: “A quantas coisas se atreveriam os clérigos e religiosos se não fosse pelo hábito!”. A realidade nos mostra exatamente isso. Os padres agora se deram a ser cantores, poetas, apresentadores, políticos, menos padre! Para seguirem esse devaneio os padres precisam comportar-se como os demais, ou seja, à paisana. Ao se colocar no nível do mundo, este o sacudirá, à mercê de seus gostos e caprichos. Haverá de ir com a moda e sua voz já não se deixará ouvir como a do que clamava no deserto coberto pela veste do profeta vestido com pêlos de camelo.

O sacerdote deve ser exemplo da humildade, da obediência e da abnegação do Salvador. A batina e o hábito o ajudam a praticar a pobreza, a humildade no vestiário, a obediência à disciplina da Igreja e o desprezo das coisas do mundo. Vestindo a batina, dificilmente se esquecerá o sacerdote de seu importante papel e sua missão sagrada ou confundirá seu traje e sua vida com a do mundo.

São Bernardo lembra que a vestimenta dos padres deve ser o sinal exterior de suas virtudes interiores. O Concílio de Trento traz a famosa expressão (muitas vezes deturpada em seu sentido original): “Mesmo considerando que o hábito não faz o monge, é necessário que os religiosos vistam sempre um hábito adequado a seu estado.” O primeiro Concílio de Milão (1565) impôs a cor negra e o quarto (1576) lembra a obrigação de usar a batina na Igreja mesmo quando não se use a capa.

O Papa Sixto V, trará, por assim dizer, a pedra final ao edifício com a Constituição “Cum Sacrosancta”, obrigando os padres a usar a batina. Impôs punições severas a quem desobedecesse. Quatro anos mais tarde esta lei será abrandada, voltando à interpretação mais genérica que prevalecera no Concílio de Trento; os padres devem usar um hábito conveniente a seu estado e de acordo com as disposições de seu bispo.
O Código de 1917 (can. 136) pede aos padres que usem um hábito eclesiástico conveniente (decentem) segundo os legítimos costumes do lugar e do Bispo. Sem outras definições mas com penalidades que podem ir até à perda do cargo ou estado clerical.

Pouco antes do Concílio Vaticano II, o Sínodo de Roma de 1960 lembra que os padres residentes em Roma devem usar a batina. Nos documentos posteriores ao Concílio encontramos, sobretudo, argumentação para convencer os padres a usar a batina nesta época de tantas contestações.
Em 1966, a Conferência Episcopal Italiana aconselha que para “vantagem pessoal do padre” e “edificação da comunidade, a batina deve ser a vestimenta normal dos padres”; o clergyman sendo reservado para as viagens ou quando for necessário por comodidade…

Neste mesmo ano, a Cúria alerta que os padres que trabalham no Vaticano devem usar a batina. E Paulo VI se lamentou em 17 de Setembro de 1969: “fomos longe demais na intenção, em si louvável, de inserir o padre no contexto social, até o ponto de secularizar sua forma de viver, de pensar, e mesmo seu hábito, com o grave risco de enfraquecer sua vocação e de ridicularizar seus compromissos”.

O Papa João Paulo II em um discurso no ano de 1978 disse ao clero: “Não nos iludamos julgando servir o Evangelho se tentamos ‘diluir’ o nosso carisma sacerdotal mediante um interesse exagerado pelo vasto campo dos problemas temporais, se desejamos ‘laicizar’ o nosso modo de viver e de proceder, se apagamos até os sinais exteriores da nossa vocação sacerdotal. Devemos conservar o sentido da nossa singular vocação, e tal ‘singularidade’ deve exprimir-se também no nosso vestuário exterior. Não nos envergonhemos! Sim, estejamos no mundo! Mas não sejamos do mundo!” (Papa João Paulo II, discurso ao clero romano).

Recentemente o Papa Bento XVI exortou os padres católicos a recuperarem o uso da batina para estarem presentes, identificados e reconhecidos nas várias áreas da sociedade moderna: “É urgente recuperar a consciência que impele aos sacerdotes a estarem presentes, identificáveis e reconhecíveis, tanto pela sua fé, pelas virtudes pessoais como pelos hábitos, cultura e caridade que foi sempre o centro da missão da Igreja “. (Bento XVI em audiência com a Congregação para Clero).

Isto posto, resta-nos rezar pelos poucos padres que ainda usam batina para que não a abandonem, uma vez que o que temos por dentro se reflete por fora e, principalmente, pelos que não a usam: Ó Jesus, Sacerdote eterno, dai à vossa Igreja sacerdotes piedosos, zelosos e santos, que a vosso exemplo sejam adoradores perfeitos do Pai que está no Céu. E se entre aqueles que chamastes alguns existem que se desviaram ou se tornaram indignos de sua vocação, chamai-os e acolhei-os novamente, Senhor, reparando com a abundância eficaz de vossa graça as faltas cometidas, a fim de que não haja na pátria brasileira mãos indignas que profanem os vossos mistérios de amor. Nós Vo-lo pedimos por intermédio de Maria Santíssima, nossa e Vossa Mãe e Rainha do Clero. Assim seja.

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O Santo Padre o Papa Francisco, em um dos seus primeiros atos canônicos como Romano Pontífice em 28 de março, reconheceu o martírio do Venerável Rolando Rivi, um seminarista italiano de 14 anos, martirizado a 13 abril de 1945.
Em maio passado os teólogos da Congregação para a Causa dos Santos já haviam reconhecido martírio do jovem vocacionado assassinado por ódio à Fé, em “Um juízo pleno e unânime”. 

Nos anos 40, após os nazistas ocuparem o seminário, todos os estudantes foram mandados para casa. Longe dali, eles continuavam rezando e estudando. Mas: Rolando Rivi “continuou usando sua batina, apesar da perigosa onda anticlerical e até do conselho de seus pais para que deixasse de fazê-lo”.

Em 1945, após a celebração do Santo Sacrifício, Rivi – que usava sua batina – acabou capturado pelos partiggiani – um movimento armado de cunho marxista e anticatólico. Ele permaneceu sendo torturado física e verbalmente pelos carrascos por três longos dias. 

Ao fim, todo ferido, ajoelhou-se para receber dois tiros… e a palma do martírio. Enquanto exclamava:


“Estou estudando para ser padre e a batina é o sinal que eu sou de Jesus”. 
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Hábito tradicional e disciplina atraem vocações:
gência Boa Imprensa
Os conventos de religiosas que se modernizaram segundo o figurino da “Igreja nova” estão vazios, devido às desistências, apostasias e falta de vocações. Porém, conventos como o das dominicanas de Santa Cecília em Nashville, EUA, (foto acima) vivem repletos de noviças.

Elas usam hábitos tradicionais e obedecem a uma estrita disciplina de oração, ensino e silêncio. O hábito antigo “é maravilhoso, é uma lembrança contínua de sermos esposas de Cristo; e aos outros ele diz que existe uma realidade além deste mundo – o Céu. Nós todas estamos voltadas para o Céu” – diz a irmã Mara Rose McDonnell. A irmã Anna Joseph Van Acker explica: “Nossa geração está sedenta de ortodoxia”

Nota:
O habíto faz o monge? fonte: http://santamariadasvitorias.org/o-habito-faz-o-monge/
Hábito tradicional e disciplina atraem vocações: http://ipco.org.br/home/noticias/habito-tradicional-e-disciplina-atraem-vocacoes


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