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Origens da Devoção Igreja Católica
A Igreja sempre usou imagens
A adoração cristã sempre foi a MISSA (ou Ceia do Senhor) e não "culto evangélico"
Santo Padre
Sua Santidade, O Papa Francisco, 266º Papa da Santa Igreja Católica, Bispo de Roma, Vigário de Jesus Cristo, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Sumo Pontífice da Igreja Universal, Primaz da Itália, Arcebispo Metropolitano da Província Romana, Soberano do Estado da Cidade do Vaticano, Servo dos Servos de Deus.
Papa emérito Bento XVI
Beato João Paulo II
Papa Pio XII
Santo Súbito!
Santo Súbito!
São Pio X
Intercedei pela Santa Igreja nesse tempo de tribulações
Intercedei pela Santa Igreja nesse tempo de tribulações
São Thomas More, morto por "evangélicos" por ser católico
São Padre Pio
Santa Gema Galgani
São Miguel Arcanjo
São Joana D´Arc
Gilles Bouhours
“Amai a Deus e a Santíssima Virgem.
Oferecei-Lhes todos os vossos sofrimentos
e assim recuperareis a paz da alma.”
Dom Justo Takayama Ukon
,Heroico e protetor senhor feudal católico
VIDA E CONDUTA DE SANTO ANTÃO
terça-feira, 4 de junho de 2013
>>>LEITURA EM PDF<<<
VIDA E CONDUTA DE
SANTO ANTÃO
Por Santo Atanásio
Santo Atanásio – Patriarca de
Alexandria, m. 373
São Paulo – Editora Paulinas
1991
NASCIMENTO E EDUCAÇÃO
DE ANTÃO
Antão
era egípcio de nascimento, filho de nobres riquíssimos. Enquanto criança, foi
criado com os pais, e não conheceu nada fora eles e a casa.
TORNANDO-SE ÓRFÃO,
DESPOJOU-SE DOS BENS
Com a morte dos pais, ficou sozinho com uma irmã muito
jovem. Entre os dezoito e vinte anos, assumiu a responsabilidade de casa e da
irmã. Refletia consigo mesmo, meditava, caminhando, como os apóstolos deixaram
tudo para seguir o Cristo, como, segundo os Atos dos Apóstolos. Ocupado o
coração com esses pensamentos, entrou na igreja. Os bens que recebeu dos pais,
trezentos arures de excelente terra fértil, deu-os de presente às pessoas da
aldeia, para não ser estorvado por eles, nem ele nem sua irmã. Vendeu todos os
móveis e distribuiu aos pobres todo o dinheiro recebido, salvo pequena reserva
para a irmã.
INÍCIO NA ASCESE (270)
Entrando na Igreja outra
vez, ouviu no evangelho o Senhor que dizia: “Não vos preocupeis com o dia de
amanhã”. Não suportando mais, distribuiu aquela reserva aos pobres. Recomendou
sua irmã a virgens conhecidas e fiéis, colocou-a numa casa de virgens para aí
ser educada.
Trabalhava
com as mãos, porque ouvira: “Quem não trabalhar, também não há de comer”. Com
parte de seu ganho, comprava o pão; resto distribuía aos necessitados. Orava
continuamente, tendo aprendido que é necessário orar sem cessar em particular. Era
tão atento à leitura que nada lhe escapava das escrituras, e a memória lhe
fazia às vezes de livros.
O INFERNO FAZ DE TUDO
PARA LEVÁ-LO A ABANDONAR SUA DECISÃO
Mas o diabo, inimigo do bem e invejoso, não suporta ver
semelhante propósito num jovem. O que maquinara contra ele começou a executar.
Primeiramente, tentou fazê-lo abandonar a ascese, sugerindo-lhe a recordação
dos bens, a responsabilidade pela irmã, suas relações familiares, o amor ao
dinheiro, o desejo de glória, o prazer variado da comida, as outras satisfações
da vida, enfim, a aspereza da virtude e as grandes fainas que ela requer. Em
suma, despertou em seu espírito tempestade de pensamentos, querendo fazê-lo
renunciar à reta eleição. Mas quando o inimigo se viu enfraquecido diante da resolução
de Antão, vencido por sua constância, posto em fuga por sua grande fé e
sucumbindo às suas orações contínuas, pôs sua confiança nas armas que estão in
umbilico ejus (são as primeiras ciladas contra jovens): ele atacou o jovem,
perturbando-o noite e dia, e assediando-o de tal maneira que aqueles que o viam
se apercebiam do combate. O diabo lhe sugeria pensamentos obscenos. Antão os
repelia pela oração. O demônio o excitava. Ele, ruborizando-se, fortalecia o
corpo com a fé, as orações e os jejuns. À noite, o diabo miserável chegava a
tomar a forma de mulher e a lhe imitar os gestos, com o único fim de seduzir
Antão, mas este, pondo Cristo no coração e meditando sobre a nobreza que vem
dele e sobre a espiritualidade da alma, apagava o tição dos embustes do
demônio. Novamente o inimigo lhe sugeriu doçuras da voluptuosidade, mas ele,
cheio de cólera e de tristeza, pôs no coração a ameaça do fogo e o tormento do
verme. Graças a esse escudo, saiu incólume. Tudo concorria para a confusão do
inimigo: ele, que pensou em fazer-se semelhante a Deus, agora era vencido por
um jovem; ele, que despreza a carne, ajudado pelo Senhor, que tomou carne,
ajudado pelo Senhor, que tomou carne por nós e dá ao corpo a vitória contra o
diabo, o que faz todos aqueles que lutam dizer: “Não eu, mas a graça de Deus
que está comigo”.
O DEMÔNIO DA IMPUREZA
SE CONFESSA VENCIDO
Enfim, o dragão, aparecendo-lhe sob as feições de menino
negro. Caindo sobre ele, assaltava-o não mais com pensamentos (esse ardil
fracassara), mas dizendo em voz humana: “Enganei a muitos, venci a maior parte,
e eis que, atacando, como a muitos, a ti e tuas fainas, fracassei”. Antão
interrogou: “Quem és tu, que me dizes essas coisas?” Esse respondeu logo, com
voz lastimosa: “Sou o amigo da impureza, pela qual armei contra os jovens
ciladas e excitações, chamam-se o espírito de fornicação. Fui eu quem muitas
vezes te perturbo, e todas às vezes tu me puseste em fuga”. Antão deu graças ao Senhor, se encorajou contra o
demônio e lhe disse: “Tu és verdadeiramente muito desprezível, porque,
espiritualmente, és negro, e és fraco como um menino. Não tenho mais nenhuma
preocupação a teu respeito. O Senhor é meu socorro, desprezarei meus inimigos”.
A essas palavras, o negro fugiu: ele temia a voz e receava até receava
aproximar-se do jovem.
ANTÃO REFORÇA SUA
ASCESE NA PREVISÃO DE NOVOS COMBATES
Vencido, o inimigo não cessou de preparar-lhe ciladas.
Antão, conhecendo pela escritura a variedade dos métodos táticos do inimigo,
perseverava na ascese, dizendo a si mesmo que o diabo tramava tentá-lo de
maneira totalmente diferente, porque o demônio é amigo do pecado. Permanecia
tanto em vigília que às vezes passava sem dormir a noite toda. Comia uma só vez
por dia, e acontecia de tomar alimentos apenas de dois em dois dias, muitas
vezes até de quatro em quatro. Ora, seu alimento era pão e sal; a bebida, água
pura. Recusava para si toda unção com óleo, dizendo que aos jovens mais
convinha exercitar-se com entusiasmo na ascese e não procurar o que amolece o
corpo, mas, antes, exercitá-lo nas fainas. Meditava: “Quando sou fraco, então é
que sou forte”. Dizia que o vigor da alma se fortalece quando os prazeres do
corpo se enfraquecem. Repetia as palavras de São Paulo: “Esquecendo-me do que fica para trás e lançando-me para o
que está adiante, prossigo para o alvo”.
RETIRADO EM TÚMULO,
SUPORTA HEROICAMENTE AS CRUÉIS SEVÍCIAS DOS DEMÔNIOS
Antão foi para os sepulcros
que se encontravam longe da aldeia. Entrou num dos túmulos, fechou a porta e lá
permaneceu sozinho. O inimigo não suportou. Certa noite, entrando com uma tropa
de demônios, abateu por terra, sem voz.
PROVOCA OS ADVERSÁRIOS,
QUE O ASSALTAM NA FORMA DE ANIMAIS FEROZES E VENENOSOS
Muito fraco para se manter de pé, em consequência das
feridas, orou deitado. Depois da oração, gritou: “Eu,
Antão, aqui estou, não fujo das feridas. Se me causares outras, e mais numerosas,
nada me separará do amor de Cristo”. Depois salmodiou: “Ainda que um exército acampe contra mim, meu coração não
temerá”.
É fácil ao diabo revestir-se de diversas formas, a fim de
praticar o mal. À noite os demônios fizeram, pois, alarido tal que todo o local
tremia. Irromperam, metamorfoseados em animais e répteis. Cada animal se
comportava segundo sua natureza. Todas essas feras de aparição faziam ruídos
horríveis e mostravam disposições ferozes. Antão jazia por terra, gemendo de
dor física, mas com a alma bem vigilante, e zombavam deles: “Se tivésseis algum poder, bastaria que viesse um só de
vós, mas o Senhor tirou a vossa força, por isso tentais assustar-me pelo vosso
número. É sinal de fraqueza imitardes formas de animais. Se podeis alguma
coisa, se recebestes poder contra mim, não tardeis, atacai. Se não podeis, por
que vos perturbar em vão? Nossa fé no Senhor é nosso muro de proteção”.
UMA VISÃO CELESTE O
RECONFORTA E LHE PROMETE ASSISTÊNCIA
O Senhor não se esqueceu do combate de Antão. Levantando os
olhos, viu o teto como que aberto e um raio de luz descendo até ele. Ouviu-se
uma voz: “Eu estava aqui, Antão. Esperava para te
ver combater. Já que resiste e não foste vencido, serei sempre teu socorro e
tornar-te-ei célebre por toda parte”.
ANTÃO DESPREZA O OURO
E SE ESTABELECE UMA FORTIFICAÇÃO ABANDONADA (285-305)
Depois do rio, encontrou um castelo fortificado, deserto,
cheio de répteis desde o tempo em que deixou de ser habitado. Lá se estabeleceu
definitivamente. Os répteis se retiraram logo. Antão tapou a entrada. Levara
pão para seis meses. Como havia água aí dentro, ele não saía, nem via aqueles
que lá iam. Exercitou-se assim por longo tempo, recebendo somente pão, por
cima, duas vezes por ano.
NOVOS ASSALTOS DOS
DEMÔNIOS. ANTÃO TRANQUILIZAVA OS VISITANTES ESPANTADOS COM SUAS LUTAS
Alguns de seus familiares
foram a ele, que não lhes permitiu entrar. Ficaram de fora dia e noite.
Aproximando-se da porta, exortava as pessoas a se retirarem, sem temor, porque,
dizia, os demônios usam de magias contra aqueles
que têm medo.
SEUS DISCÍPULOS O FORÇAM
A DEIXAR O RETIRO (305 – 306). FAZ DIVERSOS MILAGRES. SUA APARÊNCIA NESSA ÉPOCA
Viveu cerca de vinte anos
assim, recluso, levando vida ascética, não saindo, não se mostrando. No fim,
muitos queriam imitar sua ascese. Seus amigos vieram, quebraram e arrombaram a
porta. Antão saiu. Aqueles que o viram e admiraram: seu aspecto permanecera o mesmo.
Por ele o Senhor curou várias pessoas que sofriam em seus corpos e purificou
outros dos demônios.
UTILIDADE DOS
COLÓQUIOS ESPIRITUAIS. O COMBATE ASCÉTICO DURA POUCO. A VITÓRIA SERÁ ETERNA
Certo dia, todos os monges
foram vê-lo e lhe pediram que lhes dirigisse a palavra. Disse-lhes: “Os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a
glória futura que se manifestará em nós”. “Aquele que escolheu o bem, Deus
colabora com ele para o bem”. “Todo dia, ao nos levantarmos, pensemos que não
chegaremos até à noite, e à noite, ao nos deitarmos, pensemos que não
acordaremos no dia seguinte. A nossa vida, por sua natureza, é incerta; todo
dia nos é medido pela providência. Dispostos e vivendo assim todo dia, por
natureza, é incerta; todo dia nos é medido pela providência. Dispostos e
vivendo assim todo dia, não pecaremos, não teremos desejo de nada, não teremos
ressentimento contra ninguém, não entesouraremos na terra, mas, esperando
morrer todo dia, seremos pobres, perdoaremos tudo e a todos; se não dominarmos
inteiramente os desejos de mulher ou de outros prazeres impuros,
desviar-nos-emos deles como de coisas caducas, lutando sempre e tendo em vista
o dia do julgamento, porque o maior temor e o perigo dos tormentos dissipam a
doçura do prazer e mantêm a alma dócil”. “Que ninguém olhe para trás como a
mulher de Ló, porque o Senhor disse: ‘Quem põe a mão no arado e olha para trás
não é apto para o reino dos céus’”.
NOSSOS INIMIGOS OS
DEMÔNIOS
“Lutemos, pois, para que a
cólera não nos tiranize e o desejo não nos domine. Com efeito, está escrito: ‘A
cólera do homem não é capaz de cumprir a justiça de Deus; a concupiscência,
tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, atingindo a maturidade, gera a
morte”. Temos inimigos terríveis e cheios de recursos, os malignos
demônios; é contra eles a nossa luta. Como diz o apóstolo: “Pois nosso combate
não é contra o sangue nem contra a carne, mas contra os príncipes, contra as
potestades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos
maus, espalhados pelo ar”. Numerosa é sua tropa no ar que nos cerca; não estão
longe de nós. Entre eles há grandes diferenças.
NECESSIDADE DE
CONHECERMOS SUAS ASTÚCIAS
“Sabemos que is demônios não
foram criados como demônios. Deus não faz nada mau. Também eles foram criados
bons, mas, decaídos da sabedoria celeste e precipitados na terra, desviaram os
gentios por meio de ficções. Invejam a nós, cristãos, e movem tudo para fechar
o acesso ao céu, a fim de que não subamos para o lugar do qual caíram. Por isso
temos necessidade de orações e da ascese para, mediantes o carisma do
discernimento dos espíritos, podermos conhecer o que diz respeito a eles.
PARA ELES, TODOS OS
MEIOS SÃO BONS. VENCIDOS TENTAM NOVAS TÁTICAS
“Quando
os demônios veem cristãos trabalhando e progredindo, primeiramente os atacam e
os tentam e armam ciladas em seu caminho; suas ciladas são os maus pensamentos.
Pelas orações, pelos jejuns e pela fé no Senhor, eles caem logo. Mas, caídos,
não desistem e retornam depressa com velhacaria e astúcia. Atacam de outro
modo, formam ficções, procuram assustar. Também essas ficções não devem ser
temidas: não são nada e desaparecem depressa, se nos munirmos da fé e do sinal
da cruz.
OS DEMÔNIOS SE GABAM.
SÃO FRACOS
Os demônios se gabam de fazer tudo isso. Mas nós, fiéis, não
devemos temer suas magias nem dar atenção à sua voz. Ele mente e não diz
absolutamente nada de verdadeiro.
SEUS DISFARCES
“São astutos e estão prontos
para qualquer mudança ou metamorfose. Muitas vezes fingem salmodiar, sem se
mostrarem, e recordam palavras da escritura. Quando lemos, eles, como eco, logo
repetem o que lemos. Quando dormimos, despertam-nos para a oração e o fazem tão
continuamente que quase não nos permitem dormir. Eis que, transformando-se na
aparência de monges, fingem falar como homens piedosos, a fim de enganar-nos
pela semelhança externa, e para arrastarem para onde querem aqueles que se
desviaram. Mas não devemos dar atenção a eles, ainda que nos convidem a orar,
que nos aconselhem a não comermos de tudo, que nos acusem ou nos censurem pelo
que sabem de nós. Não fazem isso para a piedade ou para a verdade, mas para
levarem os simples ao desespero e persuadi-los de que a ascese é inútil, para
incluir-lhes náusea da vida monástica, fazendo-os senti-la como onerosa e muito
penosa, e para afastá-los dela”.
NUNCA OUVI-LOS. NÃO
TEMER SUAS AMEAÇAS
“Portanto,
o Senhor, como Deus, lhes fechava a boca. E a nós, ensinados pelos santos,
convém que façamos como estes e imitemos sua coragem.
“E
eu, como um surdo, não escuto,
Como um mudo que não
abre a boca”.
Não os ouçamos, pois, uma
vez que nos são estranhos, não lhes obedeçamos. Não
nos deixemos desviar por eles, que fazem tudo com astúcia. Não devemos também temê-los,
ainda que pareçam dispostos a nos atacar e ameacem matar-nos, são fracos e só
podem fazer isso: ameaçar-nos”.
EXPLICAÇÕES. APESAR DE
SEUS ESTRATAGEMAS DIVERSOS, OS DEMÔNIOS NÃO TÊM PODER. SERIA ABSURDO TEMÊ-LOS.
Tendo vindo o Senhor, o inimigo caiu, e seus poderes se
enfraqueceram. Por isso, nada podendo, são como um tirano que, mesmo caído, não
fica tranquilo, mas se gaba com palavras. Se cada um de vós refletir nisso,
poderá desprezar os demônios. Eles podem entrar com as portas fechadas e se
encontram em toda parte do ar, ele e seu chefe, o diabo; são maus e prontos a
fazer o mal, porque, como diz o Salvador: “Desde o princípio é homicida o pai
da malícia, o diabo”. Nenhum lugar os impede de nos preparar ciladas. Nada
podendo fazer, nada fazem, senão ameaças. Se
tivessem o poder, não deixariam viver nenhum de nós, cristãos. Porque para o
pecador a piedade é execrável. Se tivessem poder, não viriam em multidão, não
fariam magias, não procederiam por metamorfoses. São, pois, mais
desprezíveis por causa de sua fraqueza. Os demônios, impotentes como são,
procuram assustar com suas magias”.
POR PERMISSÃO DIVINA É
QUE O DEMÔNIO PÔDE PROVAR JÓ
Se alguém, pensando na
história de Jó, objeta: por que então o diabo, saindo contra ele, pôde fazer
tudo, tirar-lhe as riquezas, matar os filhos e ferir a ele mesmo com chaga
maligna? Que reconheça: o diabo não era forte,
mas Deus lhe entregou Jó, para que o provasse. O exemplo confirma
que é necessário desprezar o inimigo, já que, ainda quando quer, nada pode
contra um homem justo. Os demônios não tem poder nem mesmo sobre os porcos. No
evangelho está escrito que rogavam ao Senhor: “Permite-nos passar para a manada
de porcos”.
O QUANTO OS DEMÔNIOS
TEMEM OS ASCETAS
É a Deus somente que se deve temer; a eles é necessário
desprezar e não os temer em nada. Quanto mais coisas fazem,
mais devemos praticar nossa ascese contra eles. Arma
poderosa contra eles são a vida reta e a fé em Deus. Dos ascetas
temem o jejum as vigílias, as orações, a mansidão, a calma, o desprezo do
dinheiro e da vanglória, a humildade, o amor aos pobres, as esmolas, a bondade
e, acima de tudo, a piedade e relação a Cristo.
VACUIDADE DAS
PERDIÇÕES DOS DEMÔNIOS
Se fingem predizer o futuro, que ninguém faça caso. Com efeito,
muitas vezes anunciam, com vários dias de antecedência, a chegada de irmãos, e
realmente estes vêm. Não fazem isso em consideração àqueles que os ouvem, mas
para persuadi-los a confiar neles e, tendo-os nas mãos, levá-los à perdição. É
só Deus que conhece todas as coisas antes que existam. Quanto a eles, anunciam
o que veem, correndo na frente como ladrões.
OS DEMÔNIOS SÃO
INCAPAZES DE VERDADEIRAS PROFECIAS
Igualmente, a respeito das águas do rio, falam a torto e a
direito. Tendo constatado chuvas abundantes nas regiões da Etiópia, e vendo que
essa é a causa da cheia do rio, antes que a água chegue ao Egito, correm na
frente e o dizem. Os homens também o diriam, se pudessem correr como eles.
MAIS CONJETURAM QUE
PREVEEM. QUE NADA SE QUEIRA APRENDER DELES
Por si mesmos nada sabem,
mas, semelhante a ladrões, exibem o que veem nos outros. Quando
dizem a verdade, que ninguém os admire muito.
DISCERNIMENTO DOS
ESPÍRITOS. SINAIS DAS APARIÇÕES ANGÉLICAS
Se
portanto vierem a nós, de noite, e quiserem anunciar-nos o futuro ou nos
disserem: “Nós somos anjos”, não lhes deis atenção, estão mentindo. Fazei o
sinal da cruz sobre vós mesmos e sobre a casa orai, que os vereis desaparecer:
são frouxos e tem muito medo do sinal da cruz do Senhor.
Se se comportarem mais imprudentemente, dançarem, tomarem
formas e máscaras variadas, não temais, não vos assusteis, não os observais
como se fossem bons.
É possível e fácil distinguir a presença dos bons e dos
maus, se Deus der essa graça. A vista dos santos não é perturbadora. Os
pensamentos da alma permanecem sem perturbação e sem agitação.
CARACTERÍSTICAS E
EFEITOS DAS APARIÇÕES DEMONÍACAS
Mas a incursão e a aparição
dos maus são perturbadoras; isso produz logo terror na alma, perturbação e desordem
nos pensamentos, tristeza, ódio contra os ascetas, acídia, maus desejos,
quando, à vista de alguma aparição, temeis, se o temor não for algo retirado,
orai, porque a alegria e o estado da alma testemunham a santidade daquele que
se torna presente. Mas se, quando alguns aparecem, produzem-se perturbação e
ruído fora e um aparato mundano e o temor de morte, sabei que a vinda é dos
maus.
OPOR AOS DEMÔNIOS AS
PALAVRAS DO SENHOR
E que isso ainda sirva de
sinal. Quando a alma continua a ter temor, a presença é dos inimigos. Porque os
demônios não tiram o temor, como fez o grande arcanjo Gabriel a Maria e a
Zacarias, e aquele que apareceu no túmulo às mulheres. Quando veem que alguém
tem medo, aumentam as aparições, a fim de atemorizarem mais, e chegam ao ponto
de zombar, dizendo: “Prostrai-vos e adorai-nos”.
NÃO SE GLORIAR DE
MANDAR NOS DEMÔNIOS
Mas ninguém deve gloriar-se de expulsar demônios, nem
elevar-se por ter o dom de curar (os doentes). Não se deve admirar somente
aquele que expulsa os demônios, e desprezar quem não os expulsa. Fazer milagres
não depende de nós. É obra do Senhor. Devemos, portanto, orar, para recebermos
a graça de discernir os espíritos, a fim
de que, como está escrito, não acreditemos em qualquer espírito.
EXPERIÊNCIAS PESSOAIS
DE ANTÃO
Quantas vezes me anunciaram a enchente do rio, e lhes dizia:
“E que proveito isso vos traz?” Às vezes, vieram ameaçadores e me cercaram como
soldados armados; outras vezes, encheram a casa de cavalos, de animais ferozes
e de serpentes. Quanto a mim, salmodiava e por meio das orações, foram postos
em fuga pelo Senhor. Às vezes vieram nas trevas, com aparências de luz, e
disseram: “Viemos alumiar para ti, Antão”; eu fechando os olhos, orava, e logo
a luz dos ímpios se apagava. Alguns meses depois, vieram como que salmodiando e
recitando palavras das escrituras, mas, eu, como o surdo, não escutava. Às
vezes abalavam a minha cela; eu rezava, permanecendo imóvel na alma. Depois
disso, voltavam, faziam ruído, assobiavam, dançavam. Como rezasse e permanecesse
deitado, salmodiando comigo mesmo, logo começavam a se lamentar e chorar, como se
desfalecessem; mas eu glorificava o Senhor, que quebrava sua audácia e seu
furor, e fazia deles um exemplo.
COMO ELE REPELIA OS
DEMÔNIOS
Certa
vez um demônio muito alto me apareceu e ousou dizer-me: “Sou o poder de Deus,
sou a providência. Que queres que te conceda?” Então soprei com mais força
contra ele; tendo invocado o nome de Cristo, pus-me a bater nele, e parecer-me
que, de fato, bati. Ao ouvir o nome de Cristo, logo esse grande (demônio)
desapareceu com todos os seus demônios. Então, quando eu jejuava, o astuto
voltou sob a aparência de um monge, trazendo pães. Levantei-me para orar. Ele
não suportou, deixou-me.
SATÃ SE QUEIXA DOS
MONGES
Certa vez alguém bateu à
porta de meu mosteiro, saí e vi alguém grande e alto. Perguntei-lhe:
- Quem és?
- Sou satã.
- Por que estás aqui?
- Acusam-me sem motivo os monges e os outros cristãos todos,
por quê? Por que me execram o tempo todo?
- Por que os molestas?
- Não os atormento, eles mesmos é que se perturbam. Sou
fraco. Não leram eles:
O inimigo
acabou para sempre em ruínas
Arrasaste as cidades,
Sua lembrança sumiu!
Tu és sempre mentiroso, nunca dizes a verdade, e, no
entanto, sem quereres, acabas de dizer a verdade. Cristo, quando veio,
tornou-se fraco, abatido, desarmado. Ao ouvir o nome do Salvador e não
suportando a queimadura, desapareceu.
SEJAMOS OUSADOS CONTRA
OS DEMÔNIOS
Se, pois, o próprio diabo
confessa que nada pode, devemos desprezá-lo totalmente, a ele e seus demônios.
O inimigo com seus cães têm muitos artifícios, mas nós, tendo conhecimento de
sua fraqueza, podemos desprezá-lo. Não cedamos ao temor, não nos aflijamos como
fôssemos morrer. Meditemos em nossa alma que o Senhor está conosco, que os pôs
em fuga derrotados. Reflitamos, ponhamos bem no coração que, estando o Senhor
conosco, os inimigos nada nos fazem, porque, quando eles vêm, tratam-nos tais
como nos encontram e adaptam suas magias aos pensamentos que encontram em nós.
Se percebem em nós o temor e a perturbação, logo atacam como
ladrões que encontram o lugar sem defesa, e fazem nossos pensamentos
intensificar-se. Se nos veem temerosos e aterrorizados, aumentam o terror por
meio de suas aparições e de ameaças. Mas se nos encontram alegres no Senhor,
pensando nos bens futuros, meditando em nossos corações as coisas do Senhor e
refletindo que tudo está nas mãos do Senhor e que o demônio não tem força
contra os cristãos e nenhum poder contra quem quer que seja – vendo a alma
tranquila por causa de tais reflexões, eles batem vergonhosamente em retirada.
Se queremos desprezar o inimigo, pensemos sempre nas coisas do Senhor, e nossa
alma se alegre sempre pela esperança, e consideremos os artifícios dos demônios
como fumaça; em vez de perseguir-nos, fugirão, porque, como eu disse, são
medrosos, tendo sempre a perspectiva do fogo que lhes está preparado.
CUIDAR MUITO DA ALMA E
MUITO POUCO DO CORPO
É
necessário, dizia, aplicar todo o tempo livre à alma, não ao corpo, reservar ao
corpo pouco tempo, por necessidade, mas consagrar todo o resto à alma, a
procurar seu bem, para que ela não seja atraída pelas voluptuosidades do corpo,
e para que o corpo seja reduzido à servidão por ela.
ANTÃO LIVRA DO DEMÔNIO
A FILHA DE UM OFICIAL
Antão foi importunado por
certo Martiniano, oficial, cuja filha era atormentada pelo demônio. Esse homem
permaneceu longo tempo batendo à sua porta e suplicando-lhe que viesse e orasse
a Deus pela menina. Antão não quis abrir-lhe, mas inclinando-se do alto,
disse-lhe: “Homem, por que gritas por mim? Sou um homem como tu. Mas, se crês
em Cristo, que eu adoro, vai, ora a Deus com fé, e tua súplica será ouvida”.
Logo o homem acreditou, invocou a Cristo e partiu: sua filha estava purificada
do demônio.
Cristo disse: “Pedi e vos será dado”, fez por meio de Antão
muitas outras obras.
ANTÃO, ÁVIDO DE
SOLIDÃO, AFUNDA NO DESERTO INTERIOR
Vendo-se importunado pela
multidão, impedido de viver retiro segundo suas ideias e segundo queria, e
temendo orgulhar-se por causa das obras que o Senhor fazia por meio dele ou
tornar-se objeto de comentários, deliberou e decidiu partir para a alta
Tebaida, onde ninguém o conhecia.
NOVOS ASSALTOS DO INFERNO
Morava, pois, sozinho na montanha interior, dedicando-se à
oração e à ascese. As lutas que sustentou nesse lugar, não contra carne e o
sangue, mas contra os demônios adversos, como está escrito, nós as conhecemos
por intermédio de seus visitantes: ouviam o rumor de muitas vozes e um tinido
de armas; à noite, viam a montanha cheia de animais e Antão combatendo e orando
contra esses inimigos. Incutia confiança em seus visitantes; combatia de
joelhos, orando ao Senhor. Tinha verdadeiramente confiança no Senhor como na
montanha de Sião, seu espírito estava tranquilo e sem perturbação: os demônios
fugiam, e os animais selvagens, como está escrito, faziam as pazes com ele.
NOVAS VITÓRIAS DE
ANTÃO
Quando
o santo velava de noite, o diabo lhe enviava animais, e quase todas as hienas
do deserto o rodeavam, com a boca aberta, ameaçando mordê-lo. Ele, no meio,
conhecendo os artifícios do inimigo, dizia a todos eles: Se recebestes poder contra mim, estou pronto a me deixar
devorar; se fostes enviados pelos demônios, não espereis mais, retirai-vos!
Ouvindo isso, fugiam; dir-se-ia que expulsos pelo açoite de suas palavras.
UM DEMÔNIO, NA FORMA
DE ANIMAL, É POSTO EM FUGA
Alguns dias depois, estando a trabalhar, porque tinha
preocupação em fatigar-se, alguém veio à porta e puxou a corda com a qual ele
tecia cestos para dar aos visitantes em troca do que lhe levavam.
Levantando-se, viu um animal de aparência humana até as coxas, mas com pernas e
pés parecidos com os de asno. Antão contentou-se como persignar-se e dizer: “Sou servo de Cristo. Se foste enviado contra mim,
eis-me”. O animal, com seus demônios, fugiu tão rapidamente que caiu e morreu.
A morte do animal significou a derrota dos demônios. Fizeram de tudo para
expulsá-lo do deserto, mas em vão.
CONSELHOS ESPIRITUAIS
DO SOLITÁRIO A SEUS VISITANTES
Depois de alguns dias, voltou para a montanha (interior).
Daí em diante muitos visitantes e doentes foram a ele. Sempre exortava todos os
monges que lá iam, e eis que lhes recomendava: crer no Senhor e amá-lo,
guardar-se dos pensamentos impuros e dos prazeres carnais, e, como está escrito
no livro dos Provérbios, não deixar-se desviar por um ventre saciado, fugir da
vanglória e orar sem cessar, salmodiar antes de deitar e ao levantar, imprimir
(na alma) os preceitos das escrituras e lembrar-se das ações dos santos, para
pôr em uníssono com seu zelo uma alma sempre atenta aos mandamentos divinos.
Aconselhava sobre tudo a meditar continuamente na palavra do apóstolo: “Não se ponha o sol sobre vossa ira”. Que cada um pense
em suas ações do dia e da noite: se pecou, cesse de pecar; se não pecou, não se
glorie, mas persevere no bem; não descuide de si e não condene o próximo, nem
se justifique até que, como diz o bem aventurado apóstolo Paulo, venha o
Senhor, o qual julga as coisas ocultas”.
Escrevendo nossos pensamentos como se devêssemos no-los
comunicar mutuamente, guardar-nos-emos melhor dos pensamentos impuros, pela
vergonha de vê-los conhecidos.
ATENDIDO OU NÃO EM SUA
ORAÇÃO PELOS OUTROS, ANTÃO RENDE GRAÇAS A DEUS
Em muitos casos o Senhor o
ouviu: atendido, ele não se gloriava; não atendido, não murmurava. Sempre dava
graças ao Senhor. Curar não pertence a ele, nem
a ninguém, mas está reservado a Deus, que o faz quando quer e a quem quer.
ELE VÊ SUBIR AO CÉU A
ALMA DE AMUN, O NUTRIOTA
Outra
vez, assentado em sua montanha, levantou os olhos e viu no ar um homem sendo
levado para o céu e outro vindo ao encontro dele com grande alegria.
Maravilhado, glorificando esse coro, quis saber o que era aquilo. Logo chegou
até ele uma voz, dizendo que era a alma de Amun, o monge de Nítria. Ora, a
Nítria à montanha de Antão são treze dias de marcha.
LEVAM-LHE POSSESSO
FURIOSO, ELE O CURA
Veio a ele outro homem, de
família ilustre, possesso de demônio tão terrível que o energúmeno ignorava que
estivesse perto de Antão e comia os próprios excrementos. As pessoas que o
levaram pediam a Antão que intercedesse por ele. Cheio de simpatia por esse
jovem, Antão orou e passou toda a noite velando com ele. Subitamente, ao
despontar da aurora, o jovem se atira sobre Antão e o ataca. Seus companheiros
se indignaram. Antão lhes disse: “Não vos irriteis contra esse jovem. Não é ele
quem faz isso, mas o demônio que o domina. Amaldiçoei esse demônio que o
domina. Amaldiçoei esse demônio e lhe ordenei que fugisse para lugares áridos.
Ele o fez enfurecido. Glorificai, pois, o Senhor. O fato de o jovem
ter-se atirado contra mim é para vós sinal de que o demônio saiu”. A essas
palavras de Antão, o jovem ficou são, voltou a ser bem comportado como antes e
abraçou o ancião, dando graças a Deus.
ANTÃO, EM ÊXTASE, SE
VÊ MORTO. DEFENDEM-NO OS ANJOS CONTRA DEMÔNIOS
Certo dia, antes da refeição, estando de pé para orar, pela
nona hora, viu-se arrebatado em espírito. Coisa espantosa, de pé, viu-se fora
de si como que conduzido através dos ares por algumas pessoas, em seguida viu
outras, amargas e cruéis, de pé no ar e querendo impedi-lo de subir.
Defendendo-o seus condutores, os outros perguntaram se lhes estava sujeito e
quiseram fazê-lo prestar contas desde seu nascimento. Os guias de Antão se
opuseram, dizendo aos adversários: “O Senhor perdoou as faltas cometidas desde
seu nascimento, podeis pedir-lhe contas das que cometeu depois que se fez monge
e se consagrou ao Senhor”. Os adversários o acusavam, mas nada podiam provar. A
rota ficou livre e sem obstáculos. Antão se viu então voltar, de pé diante de
di, e de novo ele mesmo. Esquecendo a comida, passou o resto do dia e a noite
em gemidos e oração. Admirava por quais lutas e fadigas é necessário passar
para atravessar os ares, e se lembrava do que diz o apóstolo sobre o “príncipe
do poder do ar”. O inimigo tem o poder de combater e impedir aqueles que sobem
através (dos ares). Antão fazia, portanto, esta exortação principalmente: “Por
isso deveis vestir a armadura de Deus, para poderdes resistir aos dias maus,
para que o adversário fique confuso, não tendo nenhum (mal) que dizer contra
nós”. Nós, que aprendemos isso, lembremo-nos do texto do Apóstolo: “Se no corpo
ou fora do corpo, não sei; Deus o sabe”. Mas Paulo foi arrebatado até o
terceiro céu, e tendo ouvido palavras inefáveis, desceu. Antão se viu subir no
ar e combater até que o caminho parecesse livre.
VISÃO DO GIGANTE
INFERNAL E DA PASSAGEM DAS ALMAS
Alguém o chamou do alto: “Antão, levante-te e olha”. Ele
saiu, porque sabia a quem devia obedecer. Levantando os olhos, viu um ser
gigantesco, horroroso, temível, de pé e atingindo as nuvens. Outros seres, que
pareciam alados, subiam. O gigante estendia as mãos e impedia alguns; os
outros, voando acima, atravessavam e eram conduzidos para o alto, sem seres
inquietados. Para esses últimos, o gigante rangia os dentes; quanto aos outros,
alegrava-se de vê-los cair. Logo Antão ouviu uma voz: “Compreendes o que vês”. Seu
espírito foi aberto: compreendeu que era a passagem das almas e o gigante de pé
era o inimigo, que tem inveja dos fiéis e reina sobre aqueles que a ele se
submeteram e os impede de passar, mas não domina de cima aqueles que não se
deixaram persuadir por ele. Avisado por essa nova visão, lutava sempre mais
para progredir cada dia. Não foi de boa vontade que falou dessas coisas. Como
demorasse na oração e admirasse o que vira, seus companheiros indagaram e o
atormentaram. Teve de se explicar como um pai que não pode ocultar nada aos
filhos. Conhecia a pureza de intenção deles e sabia da utilidade de narração
que mostra os bons frutos da ascese, sabia também que muitas vezes as visões
são a consolação dos trabalhos.
RESPEITO DE ANTÃO PELO
CLERO
Era muito paciente e de alma humilde. Ele, tão grande,
respeitava extremamente a lei da Igreja. Queria que todo o clero tivesse
precedência sobre ele. Não temia inclinar a cabeça diante dos bispos e dos
sacerdotes. Se um diácono edificar-se junto dele, dizia-lhe o que era
necessário para a sua edificação; mas, no que concerne à oração, dava-lhe a
precedência, não se envergonhando em dele aprender, por sua vez. Interrogava
muitas vezes, queria ouvir seus companheiros e reconhecia o proveito em
aprender deles coisas úteis. Seu semblante tinha grande e admirável graça. O
Salvador lhe fizera ainda este favor: quando estava entre a multidão dos
monges, se alguém que ainda não o conhecia queria vê-lo, este deixava todos os
outros à chegada de Antão e corria para ele como que atraído por seus olhos.
Não se distinguia dos outros nem pela altura nem pela corpulência, mas pela
composição dos costumes e pela pureza da alma. Como sua alma estava em paz, os
movimentos de seu corpo davam a impressão e a ideia do estado de seu coração,
segundo a palavra da Escritura:
“Um
coração alegre deixa o semblante sereno,
O coração triste
abate o espírito”
Antão nunca estava perturbado, sua alma era serena; nunca
estava triste, seu espírito era alegre.
HORROR DE ANTÃO AO
CISMA E À HERESIA
Admiráveis eram sua fé e sua piedade. Nunca se relacionou
com os melecianos cismáticos, cujas malícia e defecção discerniu desde o
começo; não teve nenhuma relação de amizade com os maniqueus ou com os hereges,
a não ser para exortá-los a se converterem à piedade; pensava e declarava que a
amizade e o relacionamento com os hereges fazem mal à alma e a arruínam.
Abominava a heresia ariana e proibia a todos de se aproximarem deles e de
seguir sua fé pervertida. Algumas pessoas, vítimas das ilusões de Ario, vieram
a ele; tendo conhecido sua impiedade, expulsou-as de sua montanha, dizendo que
suas palavras eram piores que o veneno das serpentes.
A PEDIDO DOS BISPOS,
VEM A ALEXANDRIA REFUTAR OS ARIANOS
A pedido dos bispos e de todos os irmãos, desceu a montanha
e veio a Alexandria para condenar os arianos, dizendo que a sua heresia era a
última e a precursora do anticristo. Ensinou também ao povo que o Filho de Deus
não é criatura e que não foi tirado do nada, que ele é o Verbo eterno e a Sabedoria
da substância do Pai.
É OBJETO DE VENERAÇÃO
UNIVERSAL
Todo o povo se alegrava ao ouvir esse homem condenar a
heresia que combate o Cristo. Em Alexandria mesmo, o Senhor purificou por meio
dele muitos possessos e curou aqueles que tinham o espírito atingido.
COLÓQUIO COM DOIS
FILÓSOFOS
Antão era extremamente ponderado. Coisa admirável, sem ter
aprendido as letras, compreendia e penetrava tudo. Um dia, dois filósofos
helenos vieram vê-lo, crendo poder embaraçá-lo. “Por que tanto vos afadigais, ó
sábios, para visitardes um ignorante? Se viestes ver um ignorante, vossa fadiga
é vã, mas se me considerais ponderado, tornai-vos o que eu sou, porque deve-se
imitar o bem. Se eu fosse a vós, eu vos imitaria... Como sois vós que vindes a
mim, tornai-vos como eu, que sou cristão”. Os visitantes se retiraram
admirados, porque viam Antão temido até pelos demônios.
ANTÃO, APOLOGISTA:
DEFESA DA CRUZ E OFENSIVA CONTRA O PAGANISMO
Muito tarde, outros daqueles que, entre os helenos, passam
por sábios vieram pedir explicações de nossa fé em Cristo. Começaram
argumentando sobre a geração da divina cruz e zombando. Antão se conteve pouco,
tendo compaixão da ignorância deles, depois disse-lhes por meio de intérprete
que traduzia bem suas palavras: “Que é mais belo: confessar a cruz ou atribuir
a vossos pretensos deuses adúlteros e perversões homossexuais? Nossa doutrina é
testemunho de força e de desprezo da morte. As vossas são as paixões da
luxúria. E que é melhor: dizer que o Verbo de Deus não mudou, mas, permanecendo
o mesmo, para salvar os homens e fazer-lhes o bem, tomou corpo de homem e se
uniu à natureza humana para fazer os homens participarem da natureza divina e
espiritual? Ou assemelhar o divino aos seres sem razão e, por consequência,
adorar os quadrúpedes e os répteis, e as imagens de homem, porque são esses os
objetos de veneração de vossos sábios?
Como tendes a audácia de zombar de nós, que dizemos que
Cristo se manifestou como homem, quando vós, tirando a alma do céu dizeis que
ela errou e das alturas dos céus caiu no corpo? Mais: se ela tivesse caído só
no corpo humano e não passasse, não cairia nos quadrúpedes e nos répteis! Nossa
fé atesta que a vinda de Cristo foi para a salvação dos homens. Vós errais em
vossas teorias sobre a alma ingerada. Nós pensamos no poder da Providência e em
seu amor aos homens, porque isso não seria impossível a Deus. Fazendo da alma a
imagem do Nous, vós lhe atribuís quedas e a pretendeis sujeita à mudança e,
finalmente, em razão da alma, afirmais que o próprio Nous é mutável! Com
efeito, tal a imagem, tal deve ser necessariamente aquele do qual ela é imagem.
Tendo tais ideias sobre o Nous, considerai que blasfemais o Pai do Nous.
TRIUNFO DA FÉ
Sem termos aprendido as letras, nós cremos em Deus, tendo
reconhecido pelas obras sua providência universal. Nossa fé é eficaz: a prova é
que, apoiando-nos em nossa fé em Cristo, e vós, em vossas logomaquias sofísticas,
vossos ídolos monstruosos são aniquilados, e a nossa fé se propaga em toda
parte. Com o nome de Cristo crucificado, pomos em fuga os demônios. Onde se
faz o sinal da cruz, a magia cede, e os malefícios não agem mais.
OFICIALMENTE
PROTEGIDO, O PAGANISMO DESMORONA. PERSEGUIDO, O CRISTIANISMO SE DIFUNDE POR
TODA PARTE
Dizei-me: onde estão agora vossos oráculos, os encantamentos
dos egípcios, as magias dos magos? Quando tudo isso perdeu sua força, senão
quando apareceu a cruz de Cristo? A fé e a doutrina de Cristo frequentemente perseguidas
pelos imperadores, encheram a terra habilitada. Quando, pois, brilhou
igualmente o conhecimento de Deus, a sabedoria e a virtude da virgindade,
quando a morte foi tão desprezada, senão quando apareceu a cruz de Cristo? Quem
vê os mártires desprezar a morte por Cristo, quem vê as virgens da Igreja
guardar, por Cristo, seu corpo puro e intato não duvida disso.
O ARGUMENTO
APOLOGÉTICO DO MILAGRE
Esses sinais são suficientes para mostrar que a fé em Cristo
é a verdadeira religião. Persuadimos pela fé, que põe abaixo a armadura dos
discursos. Há aqui pessoas possessas dos demônios. Purificai-as por meio de
vossos raciocínios ou pela arte que quiserdes, ou por magia, invocando os
vossos ídolos. Ou, se não o podeis, cessai de lutar contra nós e vereis o poder
da cruz de Cristo.
Invocou a Cristo e fez o sinal da cruz sobre os doentes,
duas ou três vezes. Logo esses homens se levantaram ilesos, em plena posse de
si mesmos e dando graças a Deus. Antão acrescentou: “Por que vos espantais? Não
somos nós que fazemos essas coisas. É Cristo que as faz por meio daqueles que
nele creem. Crede, pois, também vós, e vereis que entre nós não é a arte da
palavra, mas a fé pelo amor que age em Cristo. A fé em Cristo basta”.
VISÃO PROFÉTICA DAS
VIOLÊNCIAS ARIANAS
Às vezes, trabalhando assentado, o ancião entrava como que
em êxtase e, na visão, suspirava muito. Forçado, respondia, depois de grandes
suspiros: “Meus filhos, seria melhor morrer antes que aconteça o que vi... A
cólera se prepara para cair sobre a Igreja, que está prestes a ser entregue a
animais ferozes; vi o altar do santuário e, de todos os lados, mulas lançando
contra seu interior patadas desordenadas como fazem os animais recalcitrantes e
cabriolantes. Em todo caso, notastes que eu suspirava. Ouvi uma voz, que dizia:
‘Meu altar será conspurcado’”. Assim falou o ancião. Dois anos depois, deu-se a
irrupção dos arianos que sofreram atualmente e o saque das igrejas. “Não vos
desencorajeis, meus filhos; como o Senhor se irritou, assim também curará; a
Igreja recobrará logo seu esplendor e seu brilho habituais; vereis os
perseguidos voltar, e a impiedade bater novamente em retirada para seus
esconderijos, e a fé e a piedade verdadeiras exprimindo-se por toda parte com
plena liberdade e franqueza. Apenas uma recomendação: não vos comprometais com
os arianos; seus ensinamentos não vêm dos apóstolos, mas dos demônios e do pai
dos demônios, o diabo, estéril e absurdo, desviado em pensamentos como mulas
violentas”.
A ORAÇÃO OBTÉM O
MILAGRE. SOLICITADO, ANTÃO VEM EM AJUDA DO PRÓXIMO E APRESSADAMENTE VOLTA PARA
SEU EREMITÉRIO
Antão curava, pois, não dando ordem, mas pela oração, pela
invocação do nome de Cristo; era manifesto a todos que não era ele que agia, e
sim o Senhor, o qual, por meio dele, exercia seu amor aos homens.
MÉDICO ESPIRITUAL DE
TODO O EGITO
Tomava a defesa daqueles que sofriam a injustiça como se fosse
ele a vítima. Qual o aflito que veio a ele, e não partiu alegre?
ÚLTIMA VISITA AOS
MONGES, SEUS DISCÍPULOS. RECOMENDA-LHES A PERSEVERANÇA NAS ASCESES E A ORTODOXA
NA FÉ
Segundo seu costume, inspecionou os monges na montanha
exterior e, informado de seu fim próximo pela Providência, dizia aos irmãos: “É
a última visita que vos faço; ficaria surpreso, se nos tornássemos a ver nesta
vida. Para mim é tempo de partir, estou me aproximando dos cento e cinco
anos!”. Ele, como quem volta do estrangeiro para sua casa, discorria
alegremente e os exortava a não relaxarem nos trabalhos e a não esmorecerem na
ascese, mas a viverem cada dia como se fossem morrer, a preservarem
cuidadosamente suas almas dos pensamentos impuros, como lhes dissera, a
rivalizarem com os santos, a não se comunicarem com os arianos, cuja impiedade
é evidente a todos, e a não se aproximarem dos melecianos cismáticos, porque,
dizia: “Vós conheceis suas más e perversas intenções; ainda que vejais os
juízes protegê-los, não vos perturbeis. O seu aparecimento cessará de seu
contato e conservai a tradição de vossos pais e sobretudo a fé piedosa em nosso
Senhor Jesus Cristo, fé que aprendestes nas escrituras e que eu muitas vezes
vos recordei”.
ANTÃO REPROVA UM
COSTUME EGÍPCIO DE HONRAR OS MORTOS
Os irmãos insistiam com ele para que permanecesse entre eles
até sua morte. Não concordou por várias razões, que até seu silêncio
manifestava, especialmente pela seguinte: os egípcios têm costume de amortalhar
e envolver em tiras os corpos dos mortos fervorosos, sobretudo os dos santos
mártires. Em vez de enterrá-los,
colocam-nos em leitos e os conservam em casa, crendo assim honrar os defuntos.
A esse respeito, Antão chegou a pedir muitas vezes aos bispos que esclarecessem
o povo; levou alguns leigos a mudar de sentimentos e repreendia as mulheres,
dizendo-lhes que esse costume não é legítimo nem santo. Porque os corpos dos
patriarcas e dos profetas foram mantidos nas sepulturas até agora; o próprio
corpo do Senhor foi colocado num túmulo, e uma pedra, fechando a entrada, o
ocultou até a ressurreição, no terceiro dia. Com isso mostrava o pecado
daqueles que, depois da morte, não sepultam os corpos dos defuntos, ainda que
se trate de santos.
DE VOLTA A SEU
EREMITÉRIO, ANTÃO FAZ SUAS ÚLTIMAS RECOMENDAÇÕES AOS MONGES QUE O ASSISTEM
Alguns meses mais tarde, caiu doente. Chamou seus dois
companheiros (há quinze anos dois monges permaneciam com ele, praticando a
ascese e servindo-o, por causa da sua idade avançada). Disse-lhes: “Seguirei o
caminho dos Pais, como está escrito. Vejo que o Senhor me chama. Quanto a vós,
velai e não deixai que vossa longa ascese se acabe. Tende cuidado, como se
estivésseis começando agora, em conservar vosso fervor. Conheceis os demônios,
que armam ciladas; sabeis como são ferozes, mas também como é fraco seu poder.
Não os temais, pois, mas também como é fraco seu poder. Não os temais, pois,
mas respirai sempre o Cristo, crede nele, vivei cada dia como se tivésseis de
morrer, sede atentos a vós mesmos e lembrai-vos dos conselhos que vos dei. Não
tenhais nenhuma comunicação com os cismáticos nem com os hereges arianos:
sabeis como refutei a heresia que combate o Cristo e a heterodoxia destes
últimos. Tende sempre o cuidado de vos apegardes primeiramente ao Senhor, e ,
depois, aos santos, a fim de que, após a vossa morte, eles vos recebam nos tabernáculos
eternos como amigos e familiares.
MORRE AOS 105 ANOS.
SUAS ÚLTIMAS VONTADES SÃO FIELMENTE EXECUTADAS. O SEGREDO E SEU TÚMULO
Fiéis às suas instruções, prestaram-lhe as honras fúnebres,
sepultaram seu corpo e o ocultaram sob a terra, e ninguém, senão eles, soube
onde fora enterrado.
CONCLUSÃO. O SENHOR,
QUE O AMAVA, TORNOU-O CÉLEBRE EM TODA PARTE. A LEITURA DE SUA VIDA EDIFICARÁ OS
CRISTÃOS E CONVERTERÁ OS PAGÃOS
Assim fora o começo de sua ascese. Nem escritos, nem
sabedoria profana, nem arte alguma, mas só a piedade para com Deus tornou Antão
célebre. Ninguém poderia negar que isso é dom de Deus. Como poderia o renome
desse homem, assentado e escondido em sua montanha, chegar à Espanha, às
Gálias, a Roma, à África, sem a ação de Deus, que torna conhecidos em toda
parte aqueles que lhe pertencem, precisamente como prometera a Antão no início?
Esses homens agem ocultos, querem permanecer ocultos, mas o Senhor os mostra a
todos como fechos, para que, ouvindo falar deles, todos conheçam o poder dos mandamentos
para tornar a vida reta e feliz, e se animem a seguir o caminho da virtude.
Lede essas coisas aos outros irmãos para lhes ensinardes
como deve ser a vida dos monges e persuadi-los de que Nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo glorifica aqueles que o glorificam, e não só conduz ao reino
aqueles que o servem até o fim, mas também, por causa de sua virtude e para a
utilidade dos outros, manifesta e torna célebres em toda parte aqueles que se
ocultam e procuram retirar-se.
Se for necessário, lede essas coisas aos helenos, para lhes
ensinardes assim, e que Nosso Senhor é Deus e Filho de Deus, e que os cristãos
que o adoram nobremente e nele creem piedosamente não só mostram que os
demônios – que eles, helenos, têm por deuses – não são deuses, mas também os
calcam sob os pés e os expulsam como enganadores e corruptores dos homens, e
fazem isso pela virtude de Cristo Jesus nosso Senhor, ao qual seja dada glória
pelos séculos dos séculos. Amém!
Nota: Esse é apenas um
resumo da Obra de Santo Atanásio.
Marcadores: Santos
1 comentários:
Ótimo texto. Li e fiquei impressionado com a Fé e a vida de Santo Antão.
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