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O Dia de Javé

Leia em PDF segunda-feira, 26 de agosto de 2013

5, 18 – A expressão “Dia de Javé” significava o julgamento de Deus sobre todas as nações, inclusive Israel. Uma espécie de balanço ou prestação de contas.

Na mentalidade comum  pensava-se que nesse dia Javé iria manifestar-se em todo seu poder e glória e, por meio de catástrofes cósmicas, derrubaria todos os inimigos de Israel, estabelecendo a supremacia do seu povo. Era, portanto, uma concepção otimista, pois seria finalmente o dia da vitória definitiva de Israel sobre os seus inimigos.
Amós inverte essa concepção, mostrando que o dia de Javé será muito diferente. Ele é o primeiro profeta a usar essa expressão que devia ser comum entre o povo. Daí por diante, a expressão passou a fazer parte do vocabulário de outros profetas, adquirindo cada vez maior amplidão de sentido.

8, 9-14 – Outro texto estende essa nova visão do dia de Javé como escuridão e calamidade. Essas descrições mostram claramente que o profeta muda de modo radical a concepção do Dia de Javé, tal como era concebido. Pensava-se em dia de luz, isto é, o dia em que Deus concederia a vitória final aos inimigos para destruir Israel (3, 11; 4, 2-3; 5, 1-3.16.17; 6, 8—14; 8, 1-3; 9, 1-7.7-10). Por que isso? Evidentemente porque Israel não só perdeu sua identidade e se tornou como qualquer outra nação, mas chegou até mesmo a se tornar pior do que elas, cometendo as maiores injustiças: 9, 7-8ª. Poderíamos pensar que o dia de Javé seria julgamento e castigo geral para todo o povo.


9, 8b-10 Lembramo-nos, porem, que por trás da palavra “povo”, na maneira como os profetas a usam, os destinatários são detentores do poder econômico, do poder político, os sacerdotes e os profetas que manipulam a religião a serviço desses poderes. Era justamente essa classe dominante que se tornava alvo das nações inimigas e era levada para o exílio.

O povo já era vítima desses poderes, e para esse povo Javé promete a salvação. O Dia de Javé, portanto, deixa de significar o triunfo de Israel sobre as nações inimigas. Em vez disso, é conservando a mesma técnica de julgamento e vitória, ele passa a significar a libertação e o triunfo do povo contra seus opressores, sejam eles israelitas ou não.


Misericórdia de Javé

O profeta não faz apenas uma análise crítica da situação para apresentar o julgamento de Javé e a sentença de castigo. Javé é o Deus que quer vida, e jamais deixa de apresentar a chance para ter a vida. A ultima palavra do profeta é de esperança para todos, embora de forma diferente para as condições das pessoas. Convertam-se!

4, 6-12 – O profeta faz uma longa revisão da história. Nela, Deus esteve em ação, dando sinais para que seu povo se convertesse. Por cinco vezes o profeta constata que o povo não entendeu o sinal e não se converteu. Agora, no tempo de Amós, Deus prepara um grande julgamento, é mais uma chance de conversão.


5, 14-15 – O profeta mostrou em toda a sua atividade os crimes e injustiças cometidas contra o povo. Foram  desmascaradas e pedem  dos seus responsáveis uma atitude.

Claramente o apelo é para converter da injustiça (mal), para a prática da justiça (bem).
Isso se traduz em restabelecer o direito no tribunal, porque é aí que se encontra a possibilidade sempre aberta para o povo denunciar a injustiça e reaver os seus direitos.

Como vemos, portanto, a salvação do opressor depende do reconhecimento da sua justiça. A chance da conversão é dada por Deus, através das críticas do profeta. Mas Deus não pode produzir a conversão, pois, em ultima analisa, ela depende unicamente do homem. Se o homem não quer, nem Deus poderá fazer nada.


Misericórdia Para os Oprimidos:

7, 1-6 – Já dissemos que a palavra “povo” quer dizer, nos profetas, a totalidade das pessoas. É preciso distinguir a cada momento quem está sendo o destinatário. Se o profeta usa essa palavra para acusar os injustos, é clara que, de outro lado estão os injustiçados, que perfazem a maioria do povo, oprimida pelo sistema injusto. É a esses injustiçados que Amós se refere nas duas visões. As duas visões se referem à destruição ocasionando pelo julgamento Divino: tanto os gafanhotos (7,  1-2) como o fogo devorador (7,4), são figuras do castigo devido à injustiça. Nas duas visões, porém o profeta suplica a Javé para que o povo inocente não seja atingido pelo julgamento.

7, 3-6 – Como entender isso? O profeta agora está intercedendo pela grande massa do povo, que é vítima das estruturas injustas que o massacram. Esse povo oprimido não merece ser castigado junto com o opressor, mas tem o direito de ser salvo. É uma questão de injustiça, que é de fato a atitude de Deus.

Um Horizonte de Esperança


9, 11-15 – O texto final do livro de Amós é um acréscimo feito muito tempo depois e se dirige aos judaistas exilados na Babilônia. Como dissemos antes, para o exílio eram levados os governantes e a classe dominante, detentora dos meios de produção. Esse texto final abre perspectivas de esperanças para aqueles que foram castigados  com o exílio e reconheceram a própria culpa. Vai mais longe redescobrir a possibilidade do dia de Javé como o dia de luz para o povo, inclusive para aqueles que foram castigados e se arrependeram .

A literatura profética, portanto, adentra no horizonte da grande utopia de um mundo sem opressores, onde todos viverão na fraternidade, na abundância e na liberdade. Esse anseio de todos os homens se apresenta como projeta a ser construído dentro da história por todos aqueles que acreditam no Deus da Vida.

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